A cultura é, sem dúvida alguma, um elemento importante na nossa vida, simbolizando a nossa identidade e o elo da nossa união e solidariedade.
É, ainda, um meio através do qual se pode promover um país e se pode proporcionar o desenvolvimento e a inclusão socioeconómica daqueles que souberem dela usufruir, pois é um bem propício para o conhecimento de um povo e para o desenvolvimento de uma indústria e mercado exequíveis, de arte e das instituições a ele congregadas.
A música, por seu lado, é uma linguagem universal, sem fronteira, nem barreiras linguísticas e culturais, que é apreciada por pessoas de todas as Nações.
Sendo Cabo Verde um país considerado rico, no que tange à cultura e à música, em particular, nada mais natural do que apostarmos seriamente nessa vertente artística da nossa idiossincrasia.
É, pois, pensando nos pressupostos de um investimento de qualidade e de excelência, que possa proporcionar a tal inclusão e desenvolvimento sociocultural no domínio da música, e que possa servir de mais-valia para as novas gerações, permitindo-lhes uma maior aproximação e aprofundamento do conhecimento da sua identidade, que organizamos, recentemente, um Certame à volta da Morna, e em prol da sua candidatura a Património Imaterial da Humanidade.
Inicialmente apostamos num projeto de Jorge Pedro Costa, mais concretamente o Concurso Jovens Cantam Morna, que tinha como corolário incentivar os jovens a interessar-se por este género musical cabo-verdiano, nesses tempos de mudança de atitudes e de uma certa alienação.
Para o efeito, criamos uma Comissão Organizadora, coordenada por Jorge Costa e Jorge Tavares, mas, após um ano de procura de patrocínios e parceiros para a materialização do projeto, sem se ter logrado atingir o objetivo proposto, resolvemos fazer uma Grande Gala em Homenagem à Morna, e ao Djozinha com os mesmos elementos da comissão Organizadora, sob a presidência do Presidente do CA da SOCA.
Assim, foi com gáudio e gratificação que realizamos a Grande Gala em Homenagem à Morna e ao Grande intérprete Djozinha, no quadro do Dia Nacional da Morna, e no âmbito da Candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade.
Considerada, por muitos, como o género que melhor identifica o povo cabo-verdiano e, assumida por todos, como uma das nossas bandeiras culturais, a MORNA foi declarada Património Histórico e Cultural Nacional, em 2012, tendo sido, recentemente, em 2018, instituído o Dia 3 de dezembro como Dia Nacional da Morna, sob a emblemática figura do Imortal Músico B. Léza
como seu patrono.
Acreditamos que, com a realização desse concurso, Cabo Verde ganhou mais cantores/intérpretes e compositores da morna, assim como novos apreciadores desse género, pois, estamos convictos que conseguimos atrair muitos jovens para esse palco. O objetivo foi incutir-lhes o gosto pela nossa
cultura e, mais concretamente, pela morna.
Na sequência desse grande espetáculo, realizamos também outras grandes atividades, tais como a Grande Gala em Homenagem a Kaká Barboza e Princezito, que teve um grande impacto no público em geral e nos meios culturais e artísticos; a Pré-Bienal de Artes Plásticas, que teve lugar em Assomada, em parceria com a Câmara Municipal de Santa Catarina, a qual se traduziu também num sucesso, tendo reunido sete pintores e um escultor (em destaque nas páginas seguintes).
Apresentamos, ainda, a revista SOCA Magazine em Homenagem a Kaká Barboza, sendo de se destacar aqui o Dossier Especial sobre a Morna.
Com a confrangedora situação do COVID 19, e o subsequente estado de emergência, suspendemos a realização de todas as atividades programadas para este ano e reestruturamos o nosso plano de atividades, organizando algumas atividades para serem compartilhadas nas redes sociais, com destaque para a Comemoração do Dia da Mulher Africana e Celebração da Independência Nacional, através de momentos de música, poesia e artes plásticas, com Vozes & Cores No Feminino, em que estiveram presentes vários artistas, convidados especialmente, nomeadamente: Carla Martz, Dulce Sequeira, Jaize Anes, Nanny Vaz e Teté Furtado, na música; Celina Lizardo e Helena Lisboa, na poesia; Jo Arch, Natalina Delgado e Sónia Lopes, nas artes plásticas.
Sendo certo que essa situação de contingência exige cuidados mil, entendemos, entretanto, que não podemos ficar inertes, de braços cruzados, sem fazer nada, à espera que as coisas aconteçam, e que temos de agir, de lutar para vencer essa adversidade e construirmos, assim mesmo, coisas importantes que possam ser inscritas no futuro.
E, por isso, com esse espírito e ânimo, organizamos vários encontros individuais, com vários autores e artistas, a fim de apoiá-los com um montante, muito aquém do que desejaríamos, mas que serviria para mitigar a situação precária, de sufoco e constrangimento, vivida por aqueles que, de repente, se encontraram perante um facto desgastante e desanimador, de não terem o seu ganha-pão e meio de subsistência, e, em alguns casos, de sobrevivência.
Foi, essencialmente, com essa motivação que abraçamos essa empreitada, sem alardes nem publicidade, tendo em vista apenas o bem social e cultural, de acordo com o nosso lema: Para Uma Autoria Digna e Próspera.
Não obstante esta conjuntura complicada e difícil, temos já agendadas várias atividades, no quadro da comemoração do 18 de Outubro, Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, com destaque para uma exposição de fotografia, e entrega de prémios aos vencedores do Concurso de Fotografia que lançamos em fevereiro de 2020.
Sobre este número da revista, temos a destacar alguns pontos que, pensamos, são merecedores de atenção, nomeadamente: a Homenagem a Princezito, através de uma dissertação da escritora e investigadora Augusta Teixeira, celebrando o seu percurso como músico, compositor e intérprete, mas também como escritor em língua cabo-verdiana, tendo em conta que foi homenageado na Gala junto com Kaká Barboza e não saiu na revista anterior com ele, como seria de esperar; uma abordagem especial de dois escritores de mérito em língua cabo-verdiana, recentemente homenageados, postumamente, pela Assembleia Nacional, através da pena do escritor e ensaísta José Luís Hopffer Almada; destaque da prestigiada pintora Maria Alice, que vive há muito tempo em Portugal e tem tido uma presença marcante na cena artística portuguesa; destaque de várias obras publicadas:
Quando o Rouxinol Vence o Touro, de Isa Pereira; Flor de Basalto, de Madalena Neves; Os Delírios da Cidade, de Danny Spínola; Acushenet Avenue, de José J. Cabral; Foi Colombo o Primeiro Cabo-Verdiano?, de Marcel Balla e, a fechar, uma grande entrevista com Daniel Medina, repescada do programa televisivo Letras Vivas, da autoria do jornalista cultural Danny Spínola. De realçar que este escritor e ensaísta é Vice-Presidente da SOCA e colaborador de primeira linha da nossa revista.
Relativamente a isso, mais particularmente à questão de arrecadação, há que ter a perceção de que só haverá um desenlace abonatório, isto é, que esse desiderato só será materializado se se fizer uma campanha de sensibilização dos usuários e muita formação aos associados, mais concretamente, aos potenciais intervenientes. É claro que há aqui algumas verdades, mas não serão de facto imprescindíveis; não são factores, ou axiomas sine qua non.
A perspetiva, não obstante não ser errónea, é, no entanto, redutível, minimalista mesmo, porque a valência dessa equação está assentada principalmente na evidenciação da prática legislativa, em suma, na aplicação da lei e, portanto, no funcionamento das autoridades competentes na matéria.
A práxis tem demonstrado isso, porque já fizemos uma digressão a, praticamente, todas as câmaras do país, como forma de explicitar o assunto e sensibilizar as edilidades para colaborarem nessa demanda, seus resultados concretos, apesar das aberturas a um entendimento às nossas propostas e afirmações de boa-vontade.
Os contratos feitos com alguns usuários, em 2010 são evidências incontestáveis de que não é preciso muita campanha de sensibilização, nem muita especialização para se conseguir ganhos. Para se entender isso bem seria, de todo necessário, e aconselhável, consultarem o processo de cobrança, ínsito neste número: O Processo de Cobrança da SOCA – Um Apontamento Necessário, que consta deste número, e que se encontra no site da SOCA.
RAZÃO E PERSPICÁCIA
Quanto a alguns impasses com alguns usuários e algumas câmaras municipais, nomeadamente AME, Festi Jazz, câmara municipal do Sal e da Calheta, sabemos bem quais as razões e parafernálias por detrás dessas enormidades (?) que em momento oportuno abordaremos aprofundadamente. Mas, quanto à vaca fria da arrecadação e quejandos, somos a afirmar que se se analisar bem a situação, o percurso e todos os elementos afins, de forma criteriosa e hermenêutica, creio que nem haverá controvérsia, nem qualquer qui pro quo sobre o que é essencial e imprescindível para se dar início à cobrança dos direitos autorais e artísticos em Cabo Verde.
Há muita coisa ainda que podíamos dizer aqui, principalmente sobre os direitos autorais e artísticos, que exige uma atenção especial, mas, tendo em conta que há um artigo especial sobre o processo de cobrança realizado pela SOCA, deixamos esse item para uma próxima oportunidade. E só nos resta, agora, desejar a todos serenidade, paz de espírito e muita força anímica para enfrentar- mos esta provação e alcançarmos o júbilo da vitória sobre a adversidade.