David Levy Lima é um pintor de finíssima têmpera que tem trilhado a senda do impressionismo de uma forma magistral e triunfal.
Tendo o homem e a natureza como cerne das suas obras, David Levy imprime uma leveza e subtileza às suas pinceladas e trinchas que tornam os seus quadros de uma linguagem ambígua, ao mesmo tempo que simples, numa mística estética entre o impressionismo e o abstracto.
Isto é, as pinturas de David Levy Lima possuem uma aura dialéctica devido à forma sábia como manipula as cores em manchas largas e finas, sobrepostas e dispersas, em superfícies lisas e cintilantes, plenas de vibrações e reverberações, de nuances estriadas e sombreadas, conferindo aos seus quadros uma atmosfera de certa ridiscência, ígnea e sinestésica, de estranheza metafísica, ao mesmo tempo que nos encanta com um universo exótico e fantástico, quase que virtual, que nos dá a impressão de não ter correspondência com qualquer cenário ou realidade vivida ou sonhada, não obstante estarmos conscientes de que está a referir-se a uma realidade concreta, táctil, palpável.
Ele joga com a ordenação das perspectivas, com a manipulação dos contrastes, com o caldeamento das texturas, com a tecitura das luzes e dos brilhos, de forma a criar um mundo de visualizações e percepções sugestivas e sedosas, e de representatividades conotativas, fluídas e difusas, tais as performances de marca das vanguardas da pintura contemporânea.
Na verdade, as suas obras constituem como que um convite ao nosso olhar à contemplação serena e beatífica, pela sua capacidade de estimular a nossa participação no descobrir de um novo mundo, de uma nova realidade, palpitante e plena de sensações.
Isto porque sentimo-nos espicaçados pelo desafio da interpretação desse mundo de aparências ópticas, voláteis, indefiníveis, intangíveis que ora nos mostra um amontoado amalgamado de cores, de traços, de planos e de brilhos, e ora nos apresenta imagens e cenários resplandecentes, vivos, coloridos e refrescantes, prazenteiros para um idílico passeio ou para um ameno convívio. E aqui estamos a falar das suas representatividades paisagísticas e sócio-culturais, e da sua essência, expressivas e cristalinas.
Circum-navegando, em termos temáticos, por latitudes e longitudes várias, desde paisagens montanhosas e exuberantes, às achadas extensas e secas, aos promontórios e enseadas marítimas de Cabo Verde, ou às paisagens “verdescentes” e policromáticas de Portugal, passando pelo repertório da cultura e do quotidiano cabo-verdiano, em dimensões paisagísticas ou em simples retrato, David Levy vai compondo as suas telas com a sua sensibilidade à flor da pele na captação expressiva e invulgar de gestos e momentos e, quase que diríamos, do próprio tempo num determinado espaço, o que sobrevaloriza a sua performance estética.
Pintor de apurada técnica e talento e de depurada expressividade, David Levy já desenvolveu uma obra monumental e fulcral sobre a realidade e a cultura cabo-verdianas.
Mas também sobre o espaço urbano de Portugal com uma paleta luminosa, de muitos sentidos, pela proposta de inquirição, de descodificação, de reconstrução e reinvenção, próprias de uma pintura ambígua, aparentemente fragmentada por uma geometria mecânica de assimetrias derivativas e rítmicas, às vezes abstracizantes, às vezes figurativas e sígnicas.
Com uma linha excepcional de pintura, Levy revela-se como um mago-mestre do pincel na construção, principalmente, das suas paisagens imaginadas, intuídas ou fotografadas, que se caracterizam pelo seu esplendor e pelas suas floridas, exuberantes e pitorescas orquestrações de cores, heráldicas, de formas plásticas e voláteis que nos concitam a um olhar contemplativo e reflexivo, ávido de outros entendimentos e percepções.
Com uma galeria de pintura esplêndida, maravilhosa e persuasiva, de uma certa fantasia, e plena de emoção e encanto, David Levy Lima sobressai como um pintor de referência na arte contemporânea cabo-verdiana e mesmo portuguesa, sobretudo pela sua originalidade e mestria na sua plástica moderna e impressionista (diríamos), na utilização de certas cores lado a lado para criar uma certa perspectiva óptica, assim como na utilização de pinceladas fortes que deixam transparecer as suas marcas, quando observadas de perto, mas que, vistas de longe, formam um todo compacto e homogéneo, tais as ressonâncias, principalmente de Monet, de Cézanne, de Matisse e, algumas vezes, de Van Gogh; mas também pela sua linguagem imagística de formatividade performativa e espirálica, com uma pitada de op art, em consonância com as novas tendências contemporâneas.
DS, in Cabo Verde e As Artes Plásticas
– Percurso & Perspectivas
David Levy Lima – Nasceu em 1945, em Santo Antão Cabo Verde. Pintor autodidacta, possui
uma vasta obra exposta em Cabo Verde e vários países da Europa. Foi distinguido em 1997 com o Prémio “Jaime de Fiugueiredo” concedido pelo Ministério da Educação e Cultura e obteve uma Menção Honrosa na Galeria de Arte do Casino Estoril, na Exposição “Paisagem Portuguesa/Terras e Regiões;
foi condecorado com a “Medalha do Vulcão (1ª Classe) da Presidência da República de Cabo Verde, por ocasião do 25º Aniversário da Independência Nacional.