Sonhos Caminhantes é o mais recente livro do escritor e ensaísta José Luís Hopffer C. Almada, lançado recentemente em Lisboa, com apresentação dos investigadores Hilarino da Luz, Lígia Évora e José Maria Neves.
CAMINHANDO PELOS
SONHOS CAMINHANTES
Publicado pela Livraria Pedro Cardoso, este livro de poemas, de 169 páginas, é a sexta obra poética do autor, que tem vindo a publicar os seus poemas de reminiscência e rememoração, qual Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, recuperando memórias e fatos históricos, de forma metafórica e imagética.
Na verdade, este livro confirma o que se pode tomar como ideário poético e estético do autor, que é a procura de historicidade, de vivência e convivência dos seus conterrâneos e coetâneos, pendurados, a maioria das vezes, nas brumas do tempo.
Com uma narrativa poética e uma linguagem verberativa e reflexiva, José Luís Hopffer, que tem escrito poemas longos, de dissertação sobre o Homem Cabo-verdiano, em geral, abarcando todos os quadrantes da realidade sociocultural, político e económico de Cabo Verde, com versos de intensas confabulações e reiterações, traz mais esta obra, aprimorada, de Canto às Ilhas.
Sonhos Caminhantes, sendo uma obra que condensa e expande, reiteradamente, muito do que ele já tinha abordado em obras anteriores, a modos de uma revisitação concêntrica, de circunavegação espiralada, possui, entretanto, uma temática quase inédita nele, ou pelo menos, não muito regurgitada nos seus círculos rememorativos, que é a da diáspora. Aliás, o título já aponta para isso, se o dissecarmos deste ponto de vista, do Homo Viator (daquele que viaja para descobrir), depois de o abordarmos na perspetiva imagética e semiótica, que nos poderá levar a aferir que os Sonhos, aqui, são personagens com personalidades próprias e autónomas, que caminham com um determinado propósito e intenção, embora de forma, aparentemente, pela sua fluidez, muito espontânea, quase automática (o que só acontece quando se tem um profundo conhecimento das coisas). Na verdade, os sonhos aqui encarnam o autor, e se identificam com o seu sentir e sentimento, que têm como propósito, transformar os seus mais profundos pensamentos e reflexões, sobre a sua terra e as suas gentes, em um grande Canto à Nação e ao Povo Cabo-verdianos, erguendo-os, segundo Elsa Rodrigues dos Santos, “à qualidade de heróis de uma epopeia onde há ainda muito por contar.“
Sonhos Caminhantes, à semelhança das duas primeiras obras do autor – À Sombra do Sol, Vol. I e II, é uma obra que canta e que decanta as mais recônditas e inesperadas facetas da vivência Cabo-verdiana, com abordagens modernas e contemporâneas, o que lhe confere um pendor profundamente telúrico e universal ao mesmo tempo.
De facto, a escrita de José Luís Hopffer não se resume apenas a uma questão de inspiração, sente-se que é profundamente pensada e amadurecida, com um conhecimento universal e universalista, adquirido não só da convivência com a vida e a sua essência invisível, como também, da sua relação e diálogo com grandes autores, dos quais usufrui, em grande medida, um certo sopro, no que chamamos intertextualidade, quiçá, em alguns casos `´interconfluências.“
Indo desde uma escrita irreverente e rebelde, eivada de contestação, em que as questões sociais da fome, da miséria, da prostituição, da exploração e da prepotência são profundamente retratados; passando por outras, a que apelidaremos, de perplexidade, devido, não só às inúmeras questões, de cariz metafísico e existencialista, que levanta, mas também, pela forma sui-generis, insuflada, talvez, de um certo espírito surrealista e simbolista da modernidade, que a plasma.
Escrita da realidade e do sonho, da vida e da morte, do ódio e do amor, da angústia e da alegria, da dúvida e da certeza, do desespero e da esperança, de guerra e de paz, Sonhos Caminhantes, assim como, também, Praianas e Rememoração do Tempo e da Humanidade, constituem como que manifestos hinos à vida e ao seu mistério, e ao mundo místico que rodeia o homem, com uma profunda indagação sobre Deus e Demónio, sobre a eternidade e o Paraíso, ao mesmo tempo que transgride muito do que se diz, biblicamente, com os seus próprios ditos e recriações, principalmente na génese, com Deus e Adão e Eva, num triangulo, que podemos apelidar de místico, para não dizermos impertinente, no seu sentido mais literário.
Se por um lado, há intertextos na área mítica da Bíblia, por outro, existe um posicionamento, filosófico, de uma certa dúvida e inquirição, i. é, o autor, ao mesmo tempo que aceita a Bíblia, como algo de imprescindível valor e importância na vida do homem, confronta-a e interroga-se sobre determinados assuntos, de forma, muitas vezes, especulativa e apelativa.
O prefaciador da obra, Gabriel Fernandes diz que: “Sonhos Caminhantes constitui a mais pura expressão de um feliz conluio da razão e da emoção (…).“
Para Pires Laranjeira “Pode-se dizer que o livro é um poemário fundacional, que coloca o autor no pódio dos grandes construtores poéticos de Nações modernas (…).“(in Prefácio ao livro Rememoração do tempo e da Humanidade.)
No dizer de Elsa Rodrigues dos Santos, José Luís Hopffer Almada, “com esta obra, figura obrigatoriamente entre os grandes escritores de Língua Portuguesa.“(in Prefácio ao livro Rememoração do tempo e da Humanidade.)
José Luís Hopffer Almada, jurista, poeta e ensaísta, natural de Santa Catrina, é licenciado em Direito pela Universidade Karl Marx, de Leipzig. Tem várias pós-graduações em ciências jurídicas e politicas pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa.
É membro da Academia Cabo-verdiana de Letras e tem vários ensaios publicados em diversos meios de comunicação – revistas, jornais e livros, para além das obras poéticas já citadas.