Briefing lançamento álbum de estreia – Isa
Por: Baluka Brazão
Kriola EnKantu é o álbum de estreia da cantora cabo-verdiana ISA, que espelha a sua forma de sentir Cabo Verde, sua crioulidade, no que concerne à diversidade dos géneros musicais tradicionais, suas raízes com o misto de influências de culturas de países que, ao longo da formação histórica de Cabo Verde, foram ganhando e assimilando raízes próprias nas ilhas.
ISA, encantada com as ilhas, suas gentes e cultura, lança-se no mundo discográfico com uma sonoridade acústica, buscando uma linguagem intimista, criativa, audaz e, ao mesmo tempo, com um toque de universalidade, mostrando a misciginação, multiculturalidade e força da palavra e raça krióla. “Segui o meu instinto, a voz interior e o coração, para elaborar e trabalhar este primeiro projecto discográfico. É uma emoção muito grande quando começamos a sentir e a ver algo de muito valioso para o nosso ser, ganhar corpo e ter a consciência que, dentro dessa caixinha, estão sensações, vibrações, respirações, emoções diversas”, afirma.
Homenageando e cantando para todas e cada uma das ilhas que compõem o arquipélago de Cabo Verde, a que orgulhosamente pertence, presenteia de forma inédita a Ilha de Santa Luzia, a única Ilha desabitada, com um tema cujo poema é de sua autoria, “Kantu Luzia”, tendo como intenção consciencializar a preservação, valorização da natureza e reservas ecológicas cabo-verdianas. Para encarar o desafio de ter presente, no álbum, líricas de sua própria autoria, convidou para a composição das respectivas melodias, músicos e artistas que se identificam com cada uma das letras, da ilha e do género musical. De salientar Tcheka, Princezito, Adão Brito, Valdo Pereira, e ainda o privilégio de também ter sido presenteada com ricas composições de novos e talentosos autores como Djoy Amado, Tiolino Évora, Tibau, e Lay Lobo (uma jovem poetisa que Isa fez questão de cantar as suas líricas do poema “Xintadu ta papia ku mar”, com o intuito de contribuir e motivar cada vez mais o aparecimento de mulheres e jovens kriólas a comporem poemas para a exaltação das ilhas e da mulher krióla). Encontramos ainda duas composições populares, tendo uma, em parte, criação do virtuoso artista e musico Paulino Vieira.O álbum composto por 11 faixas onde cada ilha é particularmente homenageada com uma canção, incluindo a Ilha da diáspora, apresenta géneros musicais que fazem parte do leque da tradição musical cabo-verdiana em sintonia com a contemporaneidade.
Pode-se apreciar a Bandera da ilha do Fogo, Koladera inspirada numa viagem efectuada pela artista a São Salvador da Baía, homenageando a alegria e sensualidade que caracterizam a Ilha de São Vicente, uma Valsa em representação da ilha de Santo Antão, Finason-Batuku para Santiago, Funaná-Tabanka enaltecendo a diáspora cabo-verdiana, Kola-Sanjon – tradição na ilha de São Nicolau; Mazurca para a beleza das dunas da Boavista, Morna exaltando a da ilha Brava, Kriola EnKantu teve como director musical, arranjos e guitarras, a mestria de Hernani Almeida, que desde o primeiro instante abraçou o projecto com todo o profissionalismo e dedicação, bem como a presença marcante e ao mesmo tempo subtil do percussionista angolano Carlos N’Du. Como convidados especiais poder-se-á apreciar o dedilhar do consagrado guitarrista caboverdiano Voginha, o acordeão e teclados de Zeca Couto, um dos componentes do ex-grupo musical cabo-verdiano, “Os Tubarões”, bem como o baixista Adão Brito, na canção “Pé di sinbron” .
Voz que envolve a alma, dedicação, disciplina e paixão, são valores que caracterizam a personalidade artística e entrega ao canto de ISA. Assume-se como uma cabo-verdiana“ku pé finkadu na txon”, com amor, orgulho de pertencer, de coração, a todas as ilhas que compõem o seu país, o que se pode também confirmar nos detalhes da concepção gráfica do álbum, através da utilização de figurinos nas fotografias (feitas no Convento de São Francisco e no Ilhéu de Santa Maria), que foram criados pela própria cantora, e que se identificam com os padrões no vestuário tradicional de Cabo Verde, como as conchinhas e também o panu bitxu .
Esta é a Kriola Enkantu pelas ilhas e para o mundo, encantada por receber de braços abertos, você caro amigo.
Kriola En-Kantu
Toda a obra quando concluída guarda nela uma vasta informação seleccionada para constar nela. Mais do que isso guarda sentimentos dos quais o artista não se consegue apartar quando concebe um trabalho artístico. É a sua forma de perceber as coisas, os lugares, suas gentes, seus sons, seus sabores, mas, acima de tudo, é a sua forma de sentir como tudo isso se processa à sua volta.
Este disco que hoje aqui orgulhosamente apresentamos, é a forma como a Isa aprendeu a sentir a música de Cabo Verde, música crioula e, consequentemente, fruto duma grande miscigenação de ritmos e sons, que por aqui passaram e ficaram, transformados no que chamamos de Bandera, Kolá, Mazurka, Koladera, Morna e Funaná que foram alguns dos estilos escolhidos pela Isa para compor este álbum.
Kriola Enkantu é um disco feito à medida da Isa. Doce, suave, melodioso, mesmo quando trata ritmos mais quentes e com os quais lidamos de forma epidérmica, sensorial, reactiva, como é o caso do funaná da faixa 8. É um disco moderno que nos traz estilos tradicionais, antigos, interpretados de forma contemporânea. Aliás, para mim, essa é uma característica comum aos músicos desta nova geração que tem projectado a música cabo-verdiana muito além das nossas fronteiras e de alguma das limitações que alguns insistem em querer forçosamente preservar, esquecendo o percurso que se fez para chegar até aqui. A forma como hoje se toca o violão na koladera tem fortes influências da música brasileira, que entraram em Cabo Verde através do Porto Grande e que se tornaram num legado deixado por músicos como Luís Rendal, que, para mim, é o ícone desse estilo, apesar de existirem outros do mesmo calibre. São esses ritmos que vamos encontrar no tema número três, onde Isa traznos um cheirinho da Baía, com participação de Voginha, que vem confirmar o trabalho fantástico que vem fazendo na preservação dos estilos tradicionais tocados com o violão. Ser crioulo implica este tipo de influências que são marcas indeléveis da nossa história e da nossa cultura. Aliás, a fusão entre o batuku e o flamengo no tema número 7 vem provar-nos isso mesmo. Será que esta mistura faz do batuku menos batuku? Ou será que o torna mais rico? São perguntas que ficam no ar. Ouvir com atenção este tipo de trabalho poderá ajudar a fazer julgamentos despidos de preconceitos a este respeito.
Para além disso nota-se que há uma preocupação no sentido de se actualizar também os temas dos versos que compõem os álbuns destes novos artistas. Nesse aspecto, Isa surpreendenos com 5 temas seus e mais uns tantos de compositores actuais, dos quais não podia deixar de destacar a estreante Lay Lobo. Mas, para que hoje pudéssemos estar aqui a apresentar o primeiro registo em CD desta voz encantadora, houve toda uma caminhada, um processo de aprendizado, um trabalho árduo, muitas vezes compartilhado, porém, outras vezes solitário, onde me parece que o irmão e músico Valdo terá exercido um papel preponderante.
A voz é considerada o primeiro instrumento musical. Por isso, para quem já aprendeu, ou pelo menos tentou aprender a tocar violão, esse instrumento tão popular entre nós, sabe as dificuldades com que se deparou no início, para conseguir fazer com que os dedos respeitassem a vontade do cérebro e as dores que se apoderam das articulações durante essa fase de iniciação. Imagino o quão difícil terá sido para a Isa conseguir chegar a este ponto de ter um domínio perfeito sobre as suas cordas vocais e por fim, presentear-nos com esta sua primeira obra musical que nos fala de Cabo Verde e da diversidade da cultura das suas ilhas; um disco que os nossos ouvidos não se cansam de ouvir porque é como se fosse um suave massajar para os nossos sentidos. É claro que se tem forçosamente de partilhar estes elogios com os músicos escolhidos para acompanhá-la e que encaixaram na perfeição neste trabalho, onde mais uma vez, Hernani Almeida, joga um papel importantíssimo como director musical e músico de referência. Surpreendeu-nos sobretudo a sua performance na guitarra baixo eléctrica, uma vez que é a primeira vez que o ouvimos tocar tal instrumento e sempre com a mesma qualidade a que nos habituou.
A isso teremos ainda que acrescentar, a forma como conseguiu dirigir os músicos que participaram neste trabalho, todos com enorme experiência e talento, fazendo com que a sua destreza instrumental ajudasse a destacar ainda mais as qualidades da voz desta “Kriola Enkantu”.
(Baluka Brazão)
08/04/09
BIOGRAFIA DA ARTISTAVoz que envolve a alma, dedicação, disciplina e paixão, são valores que caracterizam a personalidade artística e entrega ao canto, de ISA. Cabo-verdiana, filha de pais da ilha de S. Vicente e da ilha da Boavista, vive na Ilha de Santiago desde um mês de idade. De acordo com o testemunho dos pais, familiares e amigos, seu amor pelo canto sempre se manifestou, através de atitudes de espontaneidade. Com cerca de 05 anos, quando ia à Igreja do Nazareno com a avó e faziam os cânticos religiosos, como não sabia as letras desses cânticos, davalhes uma versão própria colocando as letras das músicas que aprendia no Jardim de Infância e cantava em voz alta com a maior alegria e naturalidade. Na adolescência, juntamente com os colegas e vizinhos, nas brincadeiras de escola, de rua, em casa e festas de aniversário, gostava e organizava concursos de musica, dança, jogos, declamação de poemas, tendo sempre como pano de fundo, a música. Com 19 anos de idade parte para o Brasil a fim de efectuar, durante 4 anos, a licenciatura em Relações Públicas, na Universidade Católica de Belorizonte, e nos momentos de muita saudade dos familiares, a música era o seu refúgio e costumava cantar nos convívios com os professores e colegas da Faculdade, mostrando-lhes estratos da dança e cultura musical cabo-verdianas, como a morna, funaná, koladera, batuque, kola-sanjon, assim como, músicas brasileiras e jazz. De regresso a Cabo Verde, em 1998, fez sua estreia pública no evento Summer Stravaganza, pelo que começou a ser frequentemente convidada a participar em manifestações culturais e a cantar em espectáculos de cariz social, recreativos, vários festivais internacionais em Cabo Verde (Festival Baia das Gatas – Ilha de S.Vicente; Festival de Santa Maria – Ilha do Sal), Fesquintal Jazz, Festijazz; na inauguração do CINESAL – Sociedade de Promoção de Eventos Culturais; nos Centros Culturais Francês e Português na Cidade da Praia; participou nos CD produzidos pela Embaixada de França em Cabo Verde: Cap Vers l’Enfant II e Cap Vers Les Outres, a favor das crianças desfavorecidas; apresentou espectáculos nas comemorações do 10º e 15ª aniversários da empresa farmacêutica INPHARMA; foi convidada pela Presidência da República de Cabo Verde para cantar em recepções de Gala oferecidas ao Presidente da República Portuguesa, bem como participar nos Concertos oferecidos ao Presidente Angolano e do Brasil, nas visitas oficiais efectuadas a Cabo Verde; e participou na Gala de comemoração dos cinquenta anos – Bodas de Ouro da Transportadora Aérea de Cabo Verde –TACV.
Sua primeira internacionalização surge em 2003, com um convite para actuar em Itália, no festival de música “Sete Sóis Sete Luas”, onde deu concertos nas cidades de Roma, Pontedera e Montemurlo, com sucesso na apreciação do público que se admirava por ISA ainda não ter tido um trabalho discográfico lançado; no Brasil, actuou no Teatro Castro Alves, em São Salvador da Bahia, na IIª Conferência dos Intelectuais Africanos e da Diáspora, onde também se apresentaram artistas consagrados como Angelique Kidjo, Gilberto Gil, Balet Senegalês, Grupo Ile a ie, tendo sido admiravelmente referenciada pela imprensa, críticos e público presentes; Foi convidada pela Secretaria da Cultura de Fortaleza, Brasil, para actuar no Centro Cultural Dragão do Mar e também na Cidade de Limoeiro do Norte, aquando do IIIº Encontro Internacional dos Mestres do Mundo. Hoje, ISA é considerada uma das vozes da nova e curiosa geração cabo-verdiana de jovens talentos e defensora da música tradicional de Cabo Verde, nas suas várias vertentes e influências.